segunda-feira, 6 de maio de 2013

Central atropela o Serra enquanto autoridades atropelam o futebol

Artilheiro Johnathan comemora seu terceiro gol com a torcida e é expulso. Mais uma bola fora das
autoridades do nosso futebol.
Assim que entra no estádio, um jovem abre sua bandeira alvinegra, de cerca de um metro por um e meio. Antes da bola rolar, a alegria de um domingo de futebol é em parte desfeita por um homem de quepe e cassetete na cintura. A ordem é para recolher a bandeira.

Não adiantaria procurar motivos para a proibição da sólita bandeirinha. Não havia mastro, não havia dizeres ofensivos, apenas as cores alvinegras e o símbolo centralino erguido ao centro. Apenas o orgulho de ser centralino representado por alguns centímetros de pano.

O jogo começou e o Central se fez grande, jogou o futebol dos vencedores incontestes e levou seu torcedor a apoiar o time a cada jogada. Em um raro momento onde só há espaço para o amor no futebol, não houve tempo para críticas nesta tarde de domingo no Lacerdão.

Mais que a aplicação tática de cada equipe, hoje é preciso entender como o extra-campo tem minado a espontaneidade do futebol. Os três tentos marcados pela Patativa e os três pontos que reafirmaram o Glorioso na liderança do octogonal se tornaram detalhes.

Enquanto dentro de campo as equipes continuam lutando por títulos e classificações, fora dele federações e autoridades policiais cumprem o papel de adestrar os torcedores. Por enquanto, ainda se pode levantar e gritar, mas em pouco tempo isso deverá ser brutalmente retirado da cultura do torcedor.

Em pouco mais de um mês, Pernambuco será palco da Copa das Confederações, competição onde já não se pode fazer muita coisa. O torcedor deve assistir a partida obrigatoriamente sentado e entra outras coisas não poderá fumar, portar objetos como faixas e cartazes e, o pior, estará proibido de xingar jogadores e árbitros.

Imagine você, torcedor alvinegro, sendo proibido de desferir palavrões e xingamentos durante a partida. Um senhor que assistia o embate ontem entre Patativa e Cangaceiro perto de mim ficaria extremamente decepcionado. O futebol deixaria de ser a arte do sentimento espontâneo e passaria a ser um espetáculo morno e chato.

Este adestramento vai além das arquibancadas e invade as quatro linhas. Hoje o atleta polêmico e falastrão que agitava as rivalidades se tornou figura rara. O jogador precisa ser bom moço, bundão, apenas balançando a cabeça, sem questionar. Até a emoção de um gol é retirada inescrupulosamente do atacante.

Ontem Johnathan Silva acabou com o jogo. Balançou o capim três vezes, encostou na artilharia mesmo tendo feito um número menor de jogos no campeonato. Vem superando as adversidades e mostrando por que é diferenciado. No terceiro gol, um golaço, foi comemorar no alambrado com a galera, tomou o segundo amarelo e foi expulso. Saiu chorando, pediu desculpas.

Pois quem deveria pedir desculpas a esse jovem seria o árbitro Gilberto Castro Júnior, os tribunais e as federações pelos quatro cantos deste mundo onde a bola rola na relva. Desculpas a este jovem que não tem culpa de ser um craque, artilheiro nato, trabalhador, humilde. Todos deveriam sentir vergonha de assassinar a alegria de um garoto de 23 anos, no calor da emoção de quem decide uma partida.

O futebol fica em segundo plano sempre que "autoridades" aparecem mais que a bola e tentam, de alguma forma, acabar com a alegria do nosso esporte. A elitização do futebol passa necessariamente pela eliminação dos torcedores apaixonados, dando lugar a bobões que estão ali "pelo espetáculo". O que mais aconteceu na partida de ontem é apenas um detalhe. Estamos de luto pelo nosso bom e velho futebol.

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