segunda-feira, 16 de maio de 2011

Entrevista exclusiva!

Caros alvinegros, como pôde ser visto, o Blog ficou várias semanas fora do ar. Para nossa infelicidade, coincidiu com o período de queda de rendimento da equipe, que acabou ficando de fora das finais do Campeonato Pernambucano 2011.
Lamentações à parte, muito se questionou a respeito dos motivos que levaram ao insucesso do Central nessa estadual. A saída de Maurício Simões, o fraco rendimento de alguns atletas, suspeitas e mais suspeitas. Fugindo do universo da acusações, é interessante conhecer um pouco do que acontece nos bastidores, onde, muitas vezes, a atividade é mais jogada e mais decisiva do que as disputas dentro de campo.

É verdade que muito aconteceu nos bastidores do clube, coisas que tiveram influência direta no resultado final da Patativa na competição. Alguns fatos são conhecidos, outros foram inventados e outros passaram despercebidos. E ninguém melhor para falar de todo o cenário se não alguém que tenha estado dentro do clube e vivido algumas situações. Desde o sábado, dia 30 de abril, vinha tentando contactar algum atleta do clube para uma conversa informal. Entre vários telefonemas, a dificuldade de se conseguir uma conversa aberta era imensa, até que, finalmente, hoje, 16 de maio, consegui que um dos ex-atletas do grupo falasse um pouco sobre essas situações. Cerca de meia-hora de conversa gravada, alguns pontos esclarecidos, outros com respostas evasivas, e uma única exigência: anonimato. Nome, imagem, sequer o registro da voz. O fato é que após tantas especulações em cima da campanha do Central, não foram poucos os atletas que sentiram-se desconfortáveis perante a torcida e perante os próprios companheiros.
Respeitando o pedido, utilizarei o termo ATLETA no lugar do nome do mesmo

"ATLETA, como andam as coisas?"
- Tudo indo, graças a Deus, e aí?
"Tudo certo!"
- O que manda?
"Você sabe, né? Queria falar contigo sobre o campeonato..."
- Aí você me quebra, não posso me queimar.
"Nada... Já falei que não tem erro. A conversa não vai pro ar."
- Você quer saber de que?
"Tudo! A torcida não engole que foi uma desclassificação normal, bicho... Tem que ter um homem pra falar."
- Ninguém gosta de jogador que fala demais. A gente fica mal visto pelos professores, pelos colegas...
"Sei como é, mas é aquela coisa, eu coloco no ar o que você me fala, o que você se sente confortável pra falar..."
- Tem o lado bom de falar que a gente esclarece, né? Muita gente vê você como mercenário, fica te julgando, fala que você botou dinheiro no bolso... É complicado...
"E por quê você não esclarece pra gente?"
- Eu não posso te dar nomes, não vou me queimar, parceiro!
"Sem nomes, só o básico, o que o torcedor deveria saber..."
- Você tem como me mostrar a parada antes de divulgar?
"Claro... Preparo a matéria pro site e te ligo antes de pôr no ar."
- Assim eu acho que dá. Eu podia até falar tudo se eu fosse macaco velho na coisa, tivesse com o pé de meia feito. Mas você buscando seu espaço é complicado, hoje ninguém quer jogador problemático que fala demais.
"Entendo... Mas o que você puder soltar pra gente, já vai ser de grande importância. Você me fala o que você acha que dá pra falar, não se preocupa que eu preparo a matéria à noite e entro em contato contigo. A gente pode começar?"
- Pode ser, pode ser...

Blog: Como você explicaria para o torcedor alvinegro a queda de rendimento do time?
Atleta: É complicado, aconteceu muita coisa. O professor Simões saiu, houve coisas internas do grupo e da diretoria, e tem os comentários que vocês sabem também...

Blog: Que comentários? Sobre "venda" do time?
Atleta: Venda do time não, isso não existiu. Time é o conjunto todo, né? Não pode generalizar...

Blog: Então foi algo apenas para um ou outro jogador?
Atleta: É difícil falar assim por que a gente não tem prova, mas o pessoal comenta... Tem jogador que caiu o rendimento, né? Faltou raça.

Blog: Quem?
Atleta: Não dá pra dizer nome assim, a gente se queima. Amanhã ou depois tá com o companheiro em outro clube, aí a gente se complica e fica um clima ruim...

Blog: Muito se comenta a respeito da queda de rendimento de Sérvulo e Valnei...
Atleta: É verdade... Acho que o torcedor sentiu muito por que eram dois jogadores que estavam entre os melhores do campeonato e de repente deixaram de jogar. Mas é difícil apontar alguma coisa.

Blog: Há um certo tempo que já se fala de um possível interesse do Sport em Valnei. Você acha que isso tem relação com o desempenho do jogador?
Atleta: Isso piora as coisas por que dá brecha pra que as pessoas falem. Eu no lugar do Valnei, se não tivesse culpa de nada, recusaria qualquer conversa com o Sport, pra não dá brecha pra ninguém falar. É complicado você vê as pessoas falando mal de você e duvidando do seu caráter, o cara é pai de família, tem que saber zelar pelo nome. A gente não pode duvidar de nada nessa vida, mas eu acho que foi mais psicológico, tem muita coisa de bastidores que influencia, mas eu prefiro não acreditar que teve gente recebendo dinheiro pra jogar o planejamento no lixo.

Blog: Então o que houve nos bastidores que poderia influenciar?
Atleta: Eu acho que começou tudo com a saída do professor Maurício Simões, né? Isso desestabilizou muita coisa, ele era o cara da equipe e saiu do nada, pegou a gente de surpresa.

Blog: Ele saiu dizendo que estava saindo por dinheiro, que a proposta do Campinense era muito superior. O que ele passou pra vocês?
Atleta: Foi isso, dinheiro. Quem é que não quer dinheiro? No futebol hoje você tá por cima, amanhã por baixo, se aparece alguém oferecendo mais, você vai. Eu vim para o Central por que foi quem me ofereceu condições melhores. E se tivesse espaço, teria saído.

Blog: Você recebeu propostas pra sair?
Atleta: Praticamente todos os titulares receberam, e alguns reservas também. Proposta de vários clubes do Nordeste, inclusive do Campinense, pra onde foi o professor. Pode ver que quase ninguém tá desempregado, tá todo mundo se ajeitando... Quem não conseguiu contrato melhor é por que se queimou com a eliminação. Se você ganha 5 mil e aparece alguém te oferecendo 8, 10 mil... Você vai? Eu tenho certeza que vai. Ninguém aqui é rico, tem nada ganho na vida, futebol é fase. Se você não aproveitar, vai passar dificuldades no final da carreira.

Blog: Valnei deu uma entrevista no fim do campeonato falando que a diretoria errou em não blindar o elenco...
Atleta: Claro, nisso eu concordo. Quando se fala em blindar, é impedir que a proposta chegue. Imagina você jogar pensando que existe gente querendo te pagar o dobro no outro dia, e tu com aquele contrato até o final do ano... É difícil, todo mundo quer sair. Tem que ser inteligente pra que não chegue isso na cabeça do jogador, no Central aparecia empresário de todo lugar, proposta da Paraíba, do Ceará, de Alagoas, até pra jogar Série B e C do Brasileiro. Não pode deixar empresário chegar não. A diretoria sabia disso e não agiu. A diretoria trabalhou bem, cumpriu o que prometeu, isso ninguém reclama, mas falta malícia pro futebol. Futebol precisa ter malícia. O Chico (Noé) quando ficou sabendo da proposta que eu tinha pra sair, nem ligou, falou que eu ficasse no clube ou então pagasse a multa, se não quisesse pudia ficar encostado sem jogar, acho que não é assim que se trabalha. Se você não tem como cobrir a proposta, chegue na conversa, faça o jogador querer ficar, você tem que mostrar o diferencial do seu clube pro jogador aceitar ficar. Agora se você não dá ouvidos, só piora as coisas. Esse negócio de multa é complicado por que o clube quer receber pra liberar a gente, mas na hora de dispensar ninguém quer pagar...

Blog: O grupo realmente fez corpo mole? Seria por insatisfação?
Atleta: Junta tudo, mas vontade não faltou. Se você analisar a tabela, os resultados foram até normais. Todo mundo sabia que no returno a maioria dos jogos seria fora, ia ser difícil. Pra piorar, o grupo era pequeno, tinha pouca peça no banco. A gente jogou três jogos no sertão e ganhou dois, perdemos pra Náutico e Sport que tinham equipes fortes, os resultados foram normais... Só contra Porto e Ypiranga que a coisa desandou e todo mundo viu. A gente perdeu pra Sport e Náutico, mas correu o jogo todo, foi no sacrifício mesmo, quem disser que a gente abriu é um mentiroso. Você me conhece, Neto, e conhece de antes do Central, sabe do meu futebol e tenho certeza que você viu que eu dei o máximo...

Blog: Você se entregou pelo clube. Como vê as críticas da torcida?
Atleta: Torcedor não vê o que tem por trás. Se o time vai mal, xinga todo mundo mesmo, reclama, quer partir pra briga, e a gente tem que conviver com isso. O bastidor do futebol é forte, tem que saber jogar fora também, tem que ter apoio político, um empresário forte, um político importante, alguém que peça pelo clube no extra-campo. Não existe isso de comprar um time pra perder, a gente aceita mala branca, que é um incentivo pra ganhar do adversário, mas pra perder não existe. É feio, ninguém tem coragem, vá por mim. Você fica queimado, se um clube paga pro outro perder, todo mundo do time que se vendeu fica queimado, com certeza o clube que comprou nunca vai querer gente que ele sabe que se vendeu, por que amanhã ou depois pode fazer isso com ele também. Agora existe coisa que não se explica. Aquele jogo com o Santa Cruz em Caruaru, foi sacanagem, né? Quem tava lá viu... O cara passou a mão na gente e ficava de risadinha no campo. A gente sua a camisa pra aguentar esse tipo de coisa e tem que aguentar calado, por que se abrir a boca você fica de fora um tempão por causa do tribunal...

Blog: Você falou dos jogos contra Porto e Ypiranga. O que houve nesses jogos?
Atleta: Contra o Porto foi de propósito, corpo mole pra derrubar o treinador. A gente vinha bem com o Simões, o grupo tava fechado, aí o professor sai e trouxeram o Serrão. A mudança no trabalho foi grande, o cara era chato, não sabia lidar com o grupo, não coloca isso no ar não mas o cara era burro mesmo... Quer dizer, se tu não vai colocar meu nome, pode dizer que ele é burro (risos)... A gente não queria ele e sabia que se perdesse o clássico, ele podia cair. Alí ninguém entrou com compromisso. Treinador que conversa muito e dá moral demais pra jogador, se perde. Tem que ter o controle que tinha o Maurício Simões. Com ele o campeonato teria sido diferente...

Blog: Como vocês acordaram isso? Não seria melhor conversar com a diretoria?
Atleta: Diretor não escuta jogador. A força da gente tá dentro de campo, é onde a gente dá a resposta. Ninguém precisa combinar nada, a gente conversa entre a gente e reclama do treinador. Vai chegando um jogo importante e você sente o clima. Se o grupo tá focado em vencer o adversário, se fala da importância do jogo, a gente entra com tudo. Mas você vê que ninguém tá nem aí pro jogo, é só reclamação do treinador, ninguém dá a mínima pro que ele diz e faz no treino, então ninguém entra no clima do jogo.

Blog: A diretoria errou então?
Atleta: Errou nessa coisa de deixar empresário encher a cabeça do time e errou trazendo o treinador errado. A gente também não gostou do que fizeram com o Valdiran, sabe... Era um jogador que tava vindo pra somar, o grupo tava precisando de mais um atacante. O cara nem bem chegou e já foi embora. Eu acho que todo mundo sabia que ele era problemático, se resolveram trazer podiam pelo menos dar uma chance. Já vi jogador fazer coisas do tipo e ser resolvido na conversa, com uma multa. Tem que saber tratar o jogador também, isso pega mal com o time. Mas no resto foi bem, né, a gente não vai mentir. Pagou salário e bicho em dia, cumpriu com os contratos, isso é importante pro time jogar, mas também não é tudo. Eu disse pra você que tem que ter malícia... É isso, tem que ter a manhã do futebol.

Blog: E contra o Ypiranga?
Atleta: Alí foi mais complicado. Na verdade ninguém entendeu direito o que aconteceu. A gente simplesmente não jogou e pronto. A gente ia atrás do resultado, mas os caras do Ypiranga tavam lutando contra o rebaixamento, vieram com gosto de gás. Do mesmo jeito que a gente teve dificuldade com o América. O que não deu pra entender foi a falta de vontade da defesa. Alí o time já não tava unido, do meio pra frente jogava, do meio pra trás não. A gente buscou o gol, mas tomou também. E tomou por falha da defesa. Eu acho que chegou um ponto que tinha jogador contando os dias para a eliminação, já que a diretoria não queria liberar ninguém.

Blog: Então não rolou dinheiro? Falam que o Sport precisava da vaga e teria agido por trás...
Atleta: Se rolou, não chegou no meu bolso (risos)... Minha parte deve ter parado na mão de alguém (mais risos)... Mas sério, eu não acredito por que eu não ouvi falar nada disso. Você falou de Valnei e Sérvulo, eu não vou acusar nenhum companheiro, mas eu não acredito que dois jogadores fariam a equipe perder assim. Se fosse assim, o Sérvulo abria tudo, e a gente viu que ele fazia a parte dele, não sei se era 100%, mas fazia. Quando a gente começou a perder, a gente tava na vice-liderança. O Sport era o que? Quinto, sexto, sei lá... A lógica seria o Sport comprar o Porto, que tava mais em baixo. E talvez fosse até mais barato, por que os salários no Porto são menores, né? Nossa folha era o dobro da folha do Porto. E tem até jogador do Porto indo pro Sport. Não faz muito sentido.

Blog: Como você viu essa eliminação?
Atleta: Com tristeza, né? Eu vim pra cá pra me destacar em Pernambuco, fazer meu nome aqui. Gostei do time, da cidade, queria fazer o Central ser o primeiro campeão do interior. Eu fico triste também com essa coisa de dizer que a gente se vendeu. Eu vi meu nome sendo criticado nesse sentido e é chato. Todo mundo sabia que não dava pra manter a mesma campanha da primeira fase. E o objetivo principal do ano era a Série D. Eu queria muito estar com o Central nessa conquista, a gente tinha time pra isso.

Blog: O que se tira de experiência com essa campanha?
Atleta: Fica muita coisa, mas a vida segue e não dá pra ficar pensando muito no que passou. Tem que correr atrás agora. A diretoria tem que ver o futebol de uma maneira diferente, tem que ter gente acostumada com o futebol na diretoria. Tem gente alí que não sabe nem o que é uma bola, enquanto que na própria torcida tem gente que entende mais, viu? Essa coisa de empresário, isso tudo só prejudica e tem que mudar. E escolher bem o treinador. Se a diretoria tivesse buscado dinheiro com patrocinador, com prefeitura, e tivesse mantido Maurício Simões, a coisa toda tinha sido diferente.

Blog: Quer deixar algum recado pro torcedor centralino?
Atleta: Agradecer. Apesar das críticas, teve momentos que gritaram meu nome e isso é bom, a gente fica feliz. Gostaria de um dia voltar e fazer parte de um time vencedor pra mudar essa impressão. E que o torcedor continue apoiando, a torcida faz uma festa muito bonita e Caruaru é uma cidade grande, precisa de um clube vencedor. A torcida não pode desanimar, tem que encher o estádio e cobrar de quem faz o clube.

Blog: Obrigado pela atenção, cara. O blog está sempre aberto pra você e eu estou sempre a disposição.
Atleta: Valeu, Neto. Sei que seria importante pro torcedor saber quem tá falando, mas não posso me expor com os companheiros. Se você fala demais, é mal visto, fica como traíra, acaba se prejudicando. E a gente vive do pouco que faz, já que pelo interior não se ganha tanto dinheiro. Valeu pelo espaço, tô até com pena da sua conta de telefone (risos), bom trabalho aí e boa sorte para a Patativa.

Blog: Hahaha... Valeu, abraço!
Atleta: Abraço, tamo sempre aí!

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